Caracterização sócio–económica do setor da indústria de moldes portuguesa

30 de Novembro 2020

O presente documento é parte do estudo sobre o “Posicionamento Competitivo da Indústria de Moldes” – edição 2020, que estamos a desenvolver e cuja versão completa deverá ficar disponível no princípio de 2021.

Recursos humanos, concentração regional e dimensional

Na caracterização sócio-económica do setor de moldes metálicos, aproveitamos a relativa autonomização das empresas do setor face à existência de um código próprio na Classificação Portuguesa de Actividades Económicas, Revisão 3, abreviadamente designada por CAE-Rev.3, elaborada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE)

Efetivamente, o facto de ter sido desdobrado o CAE 2573 – Fabricação de ferramentas a um nível inferior com a criação do subcódigo CAE 25734 R3 – Fabricação de moldes metálicos, permitir concentrar a generalidade das empresas deste setor sem que estejam “contaminadas” por empresas com outras atividades similares como acontece por exemplo em Espanha, em que só existe no CNAE o código “2573.- Fabricación de herramientas”

Assim, tendo presente todas as empresas existentes em Portugal em 2019 com o CAE 25734 retirámos as que se encontram inativas nomeadamente por estarem em processos de dissolução / liquidação / encerramento, o que permitiu obter um universo de 651 empresas.

Também, no sentido de não se considerarem empresas que, embora estejam teoricamente ativas, têm atividade operacional marginal, excluímos também todas as empresas que não tinham nenhum trabalhador e / ou apresentassem proveitos operacionais inferiores a 1.000 euros.

Utilizámos estre critério para os 7 anos estudados que englobam o período de 2013 a 2019.

Com base nestes critérios, foram em 2019 Identificadas 606 Empresas com 11.184 trabalhadores.

Como as empresas do setor estão fundamentalmente concentradas em duas regiões centradas nos concelhos da Marinha Grande com 143 empresas e em Oliveira de Azeméis com 89 empresas, procedemos é segmentação espacial do setor analisando os 3 distritos nacionais com maior concentração de empresas conforme resulta do seguinte mapa:

Visualizando o peso de cada região, podemos concluir que em volume, o distrito de Leiria corresponde na média dos indicadores analisados a cerca de 55%, dos quais 28% no concelho da Marinha Grande e 15% no concelho de Leiria.

O distrito de Aveiro, onde está situado o outro grande pólo do setor, corresponde na média dos indicadores a 35%, dos quais 25% no concelho de Oliveira de Azeméis.

 

Analisando os indicadores individualmente, verificamos que no que diz respeito ao volume da produção o distrito de Leiria possui um peso maior da produção 56,8% comparativamente ao número de empresas 54,3% e trabalhadores 54,9% existentes na região:

O setor é caracterizado por ser constituído por muito pequenas empresas, muitas delas de subcontratação especializadas numa atividade do processo produtivo.

Também por via da pequena dimensão média das empresas, é normal parte importante da produção de moldes ser dirigida para empresas de engenharia e comercialização ou mesmo para outras empresas de moldes quando, face à dimensão das encomendas / projetos as empresas não possuem capacidade de produção dentro dos prazos contratados (fator crítico).

Desta forma, interessa analisar o “Produto” do setor ou seja, o valor da produção anulado dos inputs entre empresas do setor (subcontratação e mercadorias), resultando a seguinte distribuição:

Que conjugado com o VAB (Valor acrescentado Bruto) em volume:

Permite concluir que é agora a região de Aveiro que possui um peso nestes dois indicadores: 37,4% no produto e 36,3% no VAB superiores ao peso do número de empresas existentes na região; 27,4% e trabalhadores 34,9%.

O que indicia que na região de Leiria existe uma importância maior das empresas de comercialização / engenharia e que também as empresas da região de Aveiro são de maior dimensão uma vez que 27,4% das empresas possuem 35% dos 11.184 trabalhadores existentes no setor.

Por outro lado, também se deve considerar que no distrito de Aveiro existe uma maior dispersão da tipologia dos produtos fabricados nomeadamente com um maior número de empresas a fabricarem moldes para injeção de metais, para o calçado, ferramentas de estampagem e outras ferramentas especiais enquanto que no distrito de Leiria existe uma maior concentração de empresas fabricantes de moldes em aço para injeção de plástico.

Por fim o EBITDA (resultados antes das amortizações, juros e impostos), está distribuído pelas regiões na mesma proporção do número de trabalhadores e VAB

Sendo esta a fotografia actual do setor, interessa agora analisar a evolução nos últimos 7 anos, ou seja no período posterior ao último estudo efectuado sobre este tema editado pela CEFAMOL “ Posicionamento Competitivo da Industria de Moldes – Edição de 2014” que abrangeu os anos até 2012.

Contrariando o que tem sido a tendência do setor de permanente crescimento, a produção em 2018 estabilizou e em 2019 verifica-se pela primeira vez uma diminuição.

Em termos médios há uma diminuição de 8% face ao ano anterior, mais visível na região de Leiria.

Neste distrito, relativamente à produção per capita há mesmo um valor inferior ao apurado em 2013 (96,18 mil euros) fruto de reduções drásticas já em 2018 com agravamento em 2019 onde se apurou um valor de 85,77 mil euros, o que influenciou a média do setor que apresenta uma variação negativa de 3,6% no período 2013/2019.

Assim, a produção per capita do distrito de Leiria que sempre foi bastante superior ao das outras regiões acaba tendencialmente por se aproximar do valor do distrito de Aveiro.

O Produto segue a mesma tendência da Produção com um retrocesso em 2019 da mesma dimensão, tal como o VAB mas este com uma diminuição de 9,7% face a 2018, em ambos os casos mais severos na região de Leiria

O VAB médio por empresa é naturalmente mais elevado na região de Aveiro fruto da maior dimensão das empresas.

Os ganhos do VAB per capita obtidos no período 2013 a 2017 acabam por ser perdidos em 2018 e 2019 havendo uma inversão entre a região de Leiria e Aveiro. Esta última começou em 2013 com um valor inferior a Leiria e inverte em 2019

Dos indicadores analisados o EBITDA é o que apresenta pior desempenho, havendo mesmo na região de Leira um valor em 2019 inferior ao apurado em 2013, sendo que o total do setor é só marginalmente superior ao apurado em 2013 (mais 3,7%).

Tal como no VAB per capita, também os ganhos do EBITDA médio por empresas obtidos no período 2013 a 2017 acabam por ser perdidos em 2018 e 2019 havendo uma inversão entre a região de Leiria e Aveiro. Esta última começou em 2013 com um valor inferior a Leiria e inverte em 2019

Pela primeira vez o setor perde em 2019 emprego e empresas face ao ano anterior, embora marginalmente no número de trabalhadores com menos 1,6% e o número de empresas estabiliza.

Nos últimos 7 anos a criação de emprego no setor foi na ordem dos 2.361 trabalhadores, com maior relevância na região de Leiria e o número líquido de empresas no mesmo período foi de 66 sendo o crescimento em termos percentuais maior na região de Aveiro.

Reforçou-se em consequência, embora ligeiramente a dimensão média das empresas que de 16,34 trabalhadores por empresa em 2013 passou para 18,46 em 2019.

Comparativamente entre as regiões de Leiria e Aveiro, atenuou-se ligeiramente a tendência das empresas do distrito de Aveiro serem de maior dimensão; 23,54 trabalhadores em média em 2019 face à região de Leiria com 18,67 trabalhadores em média.

A redução da actividade nos dois últimos anos acaba também por se refletir o volume de investimento, embora este continue a ter um peso significativo face à natureza de um setor de capital intensivo, apresentando em 2019 a região de Aveiro pela primeira vez um volume de investimento superior à região de Leiria.

Por fim analisamos a estrutura financeira das empresas utilizando para o efeito o indicador de autonomia financeira que relaciona os capitais próprios com o total do Activo.

Para determinação deste indicador retiramos da base de dados todas as empresas que apresentavam uma autonomia financeira negativa e procedemos ao apuramento da média dos valores individuais de cada empresa de forma a que o resultado não fosse influenciado pelos valores das empresas de maior dimensão.

Ao longo do período estudado verifica-se uma relativa estabilidade a rondar os 39% com uma melhoria ligeira nas empresas da região de Aveiro.

Se tivéssemos considerado todas as empresas mesmo com capitais próprios negativos, a autonomia financeira viria diminuída em todas as regiões em cerca de 8%.

Remunerações e ganhos médios

Sendo os recursos humanos factor crítico no setor, interessa avaliar a evolução dos custos salariais que integram não só a remuneração base como também todos os complementos e encargos sociais.

A variação percentual 2013 versus 2019 em termos acumulados é de 9,5% ou seja uma média simples anual de 1,36% e uma média ponderada anual de 1,53%.

Os custos salariais sempre foram superiores na região de Aveiro mas a região de Leiria tem vindo a aproximar-se.

Se considerarmos apenas a remuneração média anual por trabalhador apuramos um valor no setor de 20.230 euros.

Considerando a média do agregado, comparando a situação em 2013 versus 2019, assiste-se a um maior peso das mulheres no conjunto dos recursos humanos, com uma evolução mais significativa na região de Aveiro.

No setor, em 2019 as mulheres representam cerca de 15% da força laboral.

Mercados estratégicos

A indústria de transformação de matérias plásticas tem um efeito multiplicador na indústria de moldes – se considerarmos que cada molde permite a produção de milhões de peças – pelo que a integração destas cadeias de valor tem um impacto considerável na economia global.

É neste contexto que a indústria de moldes é um exemplo assumido de aplicação da transformação digital (indústria 4.0, digitalização da indústria, inteligência artificial, fabricação aditiva, etc) e da economia circular, tornando-se crescentemente de capital e conhecimento intensivos, assumindo como pilares do seu desenvolvimento a inovação e a sustentabilidade.

Os componentes em plástico, de fundição injectada e de ferramentas especiais para a indústria automóvel representam o mercado estruturante das empresas do setor, que integram o cluster Engineering & Tooling, não apenas pelo grau de dependência e de envolvimento (cerca de 82%), mas também pelo volume de negócios e inovação que aportam.

Efetivamente a indústria de moldes é considerada uma indústria infraestruturante por estar no caminho crítico do desenvolvimento da generalidade dos produtos globais, sendo por isso classificada pela Comissão Europeia uma “Enabling industry” no âmbito da estratégia europeia e dos programas comunitários de apoio.

De acordo com a AFIA – Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel, as exportações de componentes até Setembro de 2020, fixaram-se em 6,1 mil milhões de euros, representando uma diminuição de 16,3% face ao período homólogo de 2019, o que representa uma quebra das vendas ao exterior na ordem dos 2,1 mil milhões de euros com especiais implicações no mercado do Reino Unido (-34,1%), francês (-30,3%), Alemão (- 14,5%) e Espanhol (-15,2%).

A evolução no terceiro trimestre de 2020 permitia antecipar uma recuperação do mercado que, infelizmente não se deverá concretizar face ao agravamento da pandemia Covid – 19 em todo o Mundo sentida no 4 trimestre do ano (segunda vaga).

Produção e Produto Setorial

Sendo uma empresa uma unidade de produção, do somatório da produção de todas as empresas do Setor resulta a chamada Produção Setorial. Distingue-se este conceito do agregado macroeconómico Produto do Setor, pelo facto de, no cômputo deste último, deverem ser excluídos os custos incorporados provenientes de outras empresas do Setor.

Como anteriormente referido é corrente a subcontratação a outras empresas do Setor de operações produtivas (maquinações, projeto, testes, etc.), como a aquisição de partes de moldes (p.e. estruturas) ou mesmo moldes completos. Este aspeto é ainda mais relevante se considerarmos o elevado peso que possuem no Setor as chamadas empresas trading ou de engenharia, muitas delas operando com o mesmo CAE das empresas fabricantes de moldes.

Se não se procedesse a estes ajustes haveria um óbvio efeito multiplicativo do Produto do Setor.

Das óticas tradicionais de cálculo do Produto Nacional: a da produção; a do rendimento, a da despesa, a primeira é a que se afiguraria mais adequada para, por analogia procedermos ao cálculo do Produto do Setor.

Um dos métodos mais utilizados para calcular o Produto Nacional na ótica da produção é o dos valores acrescentados. Se este método é eficaz numa perspetiva de Produto Nacional já não o é numa perspetiva setorial, uma vez que, naturalmente, nem todos os consumos intermédios são inputs de outras empresas do Setor, questão que não se coloca numa perspetiva de Produto Nacional.

Ora, a divulgação por parte do Banco de Portugal do valor médio do Setor dos consumos intermédios de uma forma agregada sem destrinçar o que são materiais, mercadorias, subcontratos e outros fornecimentos e serviços, introduz limitações na determinação do Produto do Setor. Contudo, a estrutura de custos do Setor é relativamente estável e conhecida por via dos estudos que a Associação – CEFAMOL – tem vindo a promover e das ações de benchmarking desenvolvidas.

Fundamentalmente a análise desenvolvida no ponto 2.1 acima, permitiu obter valores rigorosos da estrutura de custos de todas as empresas ativas e relevantes do setor.

Portanto, é relativamente seguro afirmar que os valores registados nas contas de subcontratos se referem na esmagadora maioria a operações produtivas efetuadas por outras empresas do Setor, e que igualmente, os valores registados em vendas de mercadorias se referem também na totalidade a moldes completos adjudicados a outras empresas do Setor por falta pontual de capacidade instalada, ou por serem empresas de trading e/ou engenharia.

Com base na metodologia indicada, apuramos o valor do produto e o seu peso do comércio internacional.

De referir que o Setor, no seu todo, inclui segmentos cuja produção se destina de uma forma significativa para o mercado nacional, como sejam os moldes para o calçado, os cunhos e cortantes e os moldes para metais. Estima-se que o peso do comércio internacional no valor do produto dos moldes para indústria de plásticos seja um pouco superior à média global do Setor expressa no quadro abaixo.

Por outro lado, conjugando dados estatísticos do INE no que se refere às contas públicas, com informação retirada dos IES e constante na central de balanços do Banco de Portugal para as empresas do CAE 25734 R3, e ainda, estatísticas de exportação da AICEP referentes ao NC 8480 (moldes), podemos extrair a informação necessária para enquadrar o Setor de moldes na estrutura macroeconómica do País.

Analisando o comportamento do setor nos últimos 14 anos (a preços correntes) podemos identificar uma evolução semelhante entre os valores da produção, do produto e das vendas para mercados externos, notando-se nos últimos anos um ligeiro aumento da distancia entre o valor da produção e do produto o que indicia uma degradação das condições de operação por via da diminuição do grau de transformação, fruto de condições de mercado mais agressivas.

Fazendo a mesma análise a preços constantes de 2019 com base no índice de preços do consumidor publicados pelo INE, a evolução das linhas atenua-se mantendo-se a mesma evolução com um pico em 2017 e degradação em 2018 que continuou de forma mais acentuada em 2019.

Embora o PIB per capita e o produto per capita do setor, não sendo indicadores totalmente comparáveis, permitem contudo visualizar o comportamento da produtividade nacional com o indicador mais próximo do setor.

Sendo o valor do setor nitidamente mais elevado, verifica-se, embora marginalmente um crescimento sustentado do PIB per capita a partir de 2014, sendo que o produto per capita estagna em 2015 com degradação em 2018 e 2019.

Fazendo a análise a preços constantes de 2019 a estagnação do setor inicia-se em 2014.